O fato é que Bruno e Dom estão definitivamente ausentes. Definitivamente ausentes da Amazônia, definitivamente ausentes do Brasil. Eles não trarão mais problemas para quem deseja abrir a porteira para a boiada passar, para quem diz que Bruno e Dom meteram-se em uma aventura, para quem reduz as ações da Funai na região, para os narcotraficantes. Também estarão ausentes para determinados políticos da direita, para quem controla o crime organizado na região, para os garimpeiros ilegais, os grileiros, certos setores do agronegócio, o Estado…
O Estado brasileiro é cada vez mais complacente com o crime contra os indígenas, contra à dignidade humana, contra a Amazônia. Era de se esperar que o Estado ─ que agia com lentidão ─ acelerasse mais as ações de respeito à vida na Amazônia. Mas, não! A Funai encolhida, forças policiais encolhidas, fiscalizações encolhidas, policiamento encolhido… encolhidas também a ética e a vergonha na cara dos que estão no topo do Poder máximo da Nação.
O assassinato de Dom Phillips seria um recado à impressa para que jornalistas não se atrevam mais a investigar e mostrar as ilegalidades, a destruição, o genocídio, a política antiecológica que assola a Amazônia? Bruno assassinado como um recado a todos que se atrevam a defender a Floresta, os indígenas, a vida na Amazônia?
Quantos já morreram, quantos ainda morrerão para que o nosso bioma-rei seja levado a sério, para que nativos, ribeirinhos e indígenas sejam tratados com respeito! Aluísio Sampaio dos Santos, Ari Uru-Eu-Wau-Wau, Carlos Antônio da Silva, Chico Mendes, Edemar Rodrigues da Silva, Emyra Wajãpi, Irmã Dorothy Stang, Ismauro Fátimo dos Santos, Jorginho Guajajara, José Claúdio Ribeiro da Silva, Leoci Resplandes de Souza, Marcos Arokona, Maria da Luz Benício de Sousa e Reginaldo Alves Barros, Maria do Espírito Santo da Silva, Maxciel Pereira dos Santos, Nilce “Nicinha” de Souza Magalhães, Original Yanomami, Paulo Paulino Guajajara, Paulo Sérgio Almeida Nascimento, Raimundo Santos Rodrigues, Rosenildo Pereira de Almeida, Sebastião Bezerra da Silva, Valdemir Resplandes e centenas, milhares de indígenas e ribeirinhos assassinados pelo Sistema. Todos mortos! E, mortos, estão ausentes! E ausentes não incomodarão mais a grileiros, traficantes, madeireiros, garimpeiros ilegais, determinados políticos…
O Estado é hostil e há um caminho aberto para ilegalidades, extermínios e crimes hediondos dos quais muitos ficarão impunes.
Bruno, Dom e todos os indígenas, indigenistas e ativistas assassinados que lutavam pela vida na região já não são mais empecilhos para os criminosos. Estão definitivamente ausentes para os calhordas do Sistema! Mas os dois estarão sempre presentes em nós, humanistas e que nos posicionamos contra a Direita fascista. Bruno e Dom entrarão gloriosamente para a História como heróis. Continuarão a nos ensinar a linda lição do amor à vida, à Humanidade e à natureza. Continuarão vivos em nossas memórias e no panteão de heróis do mundo.
A boiada continuará passando, grileiros, madeireiros, garimpeiros ilegais, narcotraficantes continuarão agindo até que uma decisão unânime ─ ou quase − da população brasileira rejeite os políticos que agem contra a dignidade humana da Amazônia e do Brasil… até que rejeitem os políticos da bancada do crime. Porque só políticos, se forem humanistas e responsáveis pela vida, terão a nobre capacidade de colocar em prática políticas públicas de acolhimento e respeito à Amazônia.
Tudo continuará como antes do crime de Bruno e Dom até que todos desprezemos os fascismos, as direitas reacionárias, os Centrões, os políticos locais da Amazônia que são ligados ao crime… Tudo continuará como antes até conseguirmos jogar para escanteio todos os partidos políticos que ignoram e são contrários à dignidade humana, à dignidade da floresta, à nossa dignidade.
Vald Ribeiro
(vald@palavras1.com.br)