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IMAGEM: DIVULGAÇÃO

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Febeapá

Em Crônicas, Livros

Já que não temos mais Sérgio Porto para humorizar as besteiras da atualidade, convém reler os três volumes de Febeapá.

1 de fevereiro de 2020

Se Stanislaw Ponte Preta fosse vivo, ele estaria hoje abarrotado de matérias-primas para compor as bem-humoradas crônicas que seriam inseridas em novas edições de   Febeapá (Festival de besteiras que assola o país),  título de cada uma das três coletâneas de crônicas  que o escritor lançou entre 1966 a 1968.

      Só de Bolsonaro o cronista teria material para uns dez livros. Certamente o cronista do Febeapá   não perdoaria aquela gafe antológica  cometida pelo  Presidente sobre o golden shower. A ingênua pergunta sobre essa modalidade erótica provavelmente se transformaria numa bem-humorada crônica da qual daríamos boas gargalhadas. Aquela solução ecológica de Bolsonaro insinuando que as pessoas deveriam defecar apenas de dois em dois dias certamente não seria ignorado pelo saudoso Stanislaw Ponte Preta.

    Provavelmente o  escritor não perdoaria aquela famosa afirmação feita ano passado por  Bolsonaro quando esteve em Israel e, peremptório,    afirmou: “nazismo é de esquerda”. Ora, que poder o nosso presidente tem de contrariar todos os conhecimentos acadêmicos e  negar os fatos históricos ao afirmar tamanha besteria? Quem também coaduna com essa desvairada  ideia   é o ministro das Relações Exteriores, o  Ernesto Araújo. Vai entender a ciência e consciência desses caras.

     Como eu ia dizendo: se Ponte Preta fosse usar como matéria-prima apenas as besteiras do Presidente em pouco tempo ele teria material para uns dez  Febeapás.  Claro que ficaria chato e rotineiro toda vez que o leitor abrisse o jornal e  deparasse com uma crônica sobre uma besteira presidencial. Ponte Preta, óbvio, teria consciência disso e partiria para contar casos de besteiras de outras personalidades políticas ou artísticas do Brasil. 

Tal qual  o Ministro da Educação no tempo da Ditadura, o atual Ministro seria um dos mais eminentes personagens  do Febeapá.  Os erros de ortografia  cometidos pelo atual  ministro da Educação, por exemplo,   seriam as matérias-primas  mais palpáveis para as crônicas pontepreteanas.

     Semana passada, por exemplo, dado aos inúmeros casos de asneiras  proferidas pelo Presidente e seu staff, o autor de Febeapá ficaria indeciso   para escolher qual besteira  usar como matéria prima. No dia 17 de janeiro, por exemplo,  tivemos uma das mais retumbantes besteiras da história do nosso país: o secretário de cultura de Estado, vestido ao estilo de Goebbels, penteado ao estilo de Goebbels, plagiando partes do  discurso de  Goebbels fez aquele horripilante discurso vaticinando uma nova “cultura” para o  Brasil: uma cultura plagiada da prancheta nazista.  Que vergonha passamos! Que vergonha! O Alvim foi demitido, não bom senso presidencial, mas por pressão da nossa sociedade.  Aí vem Olavo de Carvalho, o Guru  dos bolsonaristas dizendo que o infeliz Alvim foi sabotado por traidores. Ora, traidores? Imaginemos a santa ingenuidade de Alvim: o pobre coitado  fantasiou-se de Joseph Goebbels, usou como pano de fundo uma música de Wagner, compositor   que  Hitler era fã, simplesmente porque assessores o induziram a fazer isso! (?)

     E ainda no dia 17 vimos o Sinistro, digo Ministro da Educação afirmar, solene e seguro, que o Enem de 2019 foi o “melhor de todos os tempos”. Ele falou com toda aquela embófia que lhe é peculiar para, no dia seguinte, escondendo uma resignação cabreira, assumir que houve falhas do Inep, ou melhor, “inconsistências”. A besteira estava no orgulho precipitado do mandatário da Educação!

     No dia 19 foi a vez do Inep (instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão responsável pela aplicação das provas do Enem grafar no perfil do Twitter do órgão “vizualizações” em vez de “visualizações”.

     No dia 21 foi a vez de Paulo Guedes, Ministro da Economia, afirmar lá em Davos  que o grande inimigo do meio ambiente é a pobreza. Mais uma vergonha nossa em escala mundial! Ainda sobre Guedes: também em Davos ele afirmou que tinha pedido à equipe econômica que estudasse a possibilidade da criação do que  chamou de “imposto do pecado”. Dia 24 o Presidente desautorizou! Qual a besteira? Falta de comunicação entre o chefe do Executivo e o Ministério.

     Quanto material para Febeapás! Não e só esse grupo que comete suas besteiras. lembrei-me de uma besteira trágica cometida pela Câmara de Vereadores de Salvador: em dezembro do ano passado essa Casa aprovou um projeto de lei que indicava a substituição do nome da Escola Municipal Educador Paulo Freire. Uma besteira coletiva! Uma  Câmara de Vereadores também demostrando sua ingênua ojeriza a um educador reconhecido mundialmente e que recebeu uns  40 títulos honoris causa!  Teve também semana retrasada o caso daquele deputado federal do PT que publicou no Twitter uma cena de um jogo de videogame como se fosse cenas  do ataque do Estados Unidos que matou o general iraniano.

     Na época em que Ponte Preta escreveu as crônicas, o Brasil vivia   tempos de extremismos com a consolidação da ditadura militar. Em 1966 foi publicado o primeiro volume de Febeapá, contendo crônicas sobre os disparates cometidos sobretudo pelos artífices e  apoiadores  do golpe.

 O autor usava a fictícia agencia de notícias Pretapress   como referência aos materiais que vinham dos leitores e colaboradores através de recortes de jornais que, nos dedos ágeis e na genialidade do cronista,  transformavam-se em belos textos de humor.

         O forte mesmo de suas crônicas eram os temas relacionados aos artífices  da “redentora” ─ termo usado por ele  para referir-se à ditadura. Os censores sempre estavam na lista de besteiras. Em ama das narrativas,  o pessoal do DOPS adentrou o Teatro Municipal de São Paulo para prender Sófocles,  o autor  da peça “Electra”.   Para  esses caras, Sófocles era um subversivo!  Só que Sófocles, grandioso dramaturgo grego, tinha morrido em 406 a.C. Percebeu aí como os agentes do DOPS eram bem cultos?

Na crônica que abre Febeapá 1, o autor afirmou que era difícil precisar o dia em que começara o festival de besteiras que assolava o país. Mas ele indica que foi logo após golpe militar que o problema se alastrou e  cita como provável surgimento  a história  de uma mãe apoiadora do regime militar que, ao perceber que o filho tirara zero em Matemática,  ela coloca a  culpa  no professor pelo desastre pedagógico do filho. Para completar a besteira,  a intolerante mãe a  denunciou o infausto professor  às autoridades alegando que se tratava de um comunista.

As crônicas eram inicialmente escritas para a coluna “Focalizando” do Jornal Última Hora. Só depois foram incorporadas em livros.

     Stanislaw Ponte Preta é o heterônimo usado por Sérgio Porto que, além de cronistas, era radialista, jornalista, comentarista, compositor e televisista (termo criado por ele para designar quem trabalhava na televisão). Pena que ela tenha morrido 1968 aos 45 anos ─ exatamente quando a ditadura se recrudescia e calava a boca da imprensa e da arte. Dois meses antes de morrer, vitima de um infarto (aliás, ele teve três infartos), ele foi vítima de um envenenamento enquanto estava no intervalo de um show em que ele apresentava, o “Show do criolo doido” em teatro no Rio. O cronista se salvou desse envenenamento, mas, infelizmente, dois meses após, um terceiro infarto o tirou dessa vida.

     Já que não temos mais Sérgio Porto para humorizar as besteiras da atualidade. Resta-nos apenas  reler os três volumes de Febeapá. Atualmente, os três Febeapás fazem parte de um único livro lançado pela Companhia das Letras.

Vald Ribeiro

Tags: literaturapolítica
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