Dezembro sempre é tempo de jabuticabas. Por isso, a fruteira e a geladeira de seu Aníbal estavam sempre abarrotadas dessas frutinhas.
Era uma tarde de brisa fresca. Seu Aníbal encheu uma travessa média com jabuticabas bem maduras. Sentou-se no batente da porta da frente e pôs-se a descascá-las meticulosamente. Quase uma hora depois, todas estavam descascadas. Uma montanha estranha de bolotas esbranquiçadas na travessa de vidro.
Então começou a comer uma a uma. Pegava com cuidado cada polpinha, levava à boca e a tocava delicadamente com língua. Só depois a poupa era saboreada bem de mansinho, bem de mansinho. O primeiro sabor, o mais doce, era o mesmo gosto da colora e da estigma das mulheres que tivera na vida.
Naqueles 92 anos de vida, só uma coisa lhe trazia boas recordações: jabuticabas maduras!
Vald Ribeiro